Sobrevivente de genocídio no Camboja, homem se converte ao Evangelho, reencontra assassinos de sua família e os perdoa
Sobreviver a um genocídio já pode ser considerado um milagre, mas Reaksa Himm tem uma história ainda mais intensa para contar, e ele resolveu revelá-la ao mundo no livro After the Heavy Rain (“Depois da Forte Chuva”, em tradução livre).
Reaksa Himm sobreviveu ao regime Khmer Rouge, que entre os anos 1974 e 1979 matou aproximadamente 1,7 milhões de pessoas no Camboja, e viu 10 parentes serem mortos brutalmente. Sua perda pessoal chegou a 13 familiares.
Em 1975, Reaksa vivia pacificamente em Siem Reap, e com a eclosão do conflito político que resultou no surgimento do regime ditatorial, sua vida foi virada de cabeça para baixo. Depois de executar todos os líderes simpáticos ao governo anterior, o regime do Khmer Rouge passou a enviar o povo cambojano a campos de trabalho sob a alegação de que seriam apenas três dias, tempo necessário para que o exército do regime exterminasse os soldados norte-americanos que restavam no país. Mas os dias viraram meses e os meses se tornaram anos.
Durante os dois primeiros anos, Reaksa e sua família tentaram viver em conformidade com as exigências do novo governo, e não se manifestavam contra o regime. “Se você se opusesse a eles, alguém iria até você à noite dizer que iriam mandá-lo para a escola para que você pudesse mudar o seu comportamento. Mas, ser enviado à escola significava execução, literalmente”, conta o sobrevivente.
Um certo dia, Reaksa – que tinha apenas 14 anos – encontrou-se com um homem mais velho, estranho, durante seu trabalho, e ouviu dele uma previsão sombria: “Nos próximos seis meses toda a sua família será morta, mas você não vai morrer. Você terá que passar por um monte de sofrimento”, disse o homem.
Poucas semanas depois, soldados do regime foram à casa de sua família e prenderam seu pai, dizendo que o matariam por ele ser um espião da CIA. Arrastado para a floresta junto com seus irmãos menores, Reaksa ouviu de seu pai uma frase que ele nunca esqueceu: “Eu amo todos vocês”. Na cultura do Camboja, a demonstração de afeto é algo raro. “Essa foi a primeira e última vez que eu ouvi meu pai dizer essas palavras”, relata.
Os soldados cavaram covas para a família e fizeram seu pai ajoelhar-se em frente ao túmulo. Empurrado, seu pai caiu no buraco. Depois vieram os gritos. “Eu vi cada machadada dada por eles enquanto massacravam meu pai. Na minha vez, eu coloquei meu irmãozinho ao meu lado. Alguém me bateu por trás, e caí sobre o meu pai. Então eu ouvi o meu irmão bebê gritar muito alto. Eu ouvi o corte e os gritos”, conta Reaksa.
Quando estavam indo embora, os soldados notaram que ele ainda estava vivo e bateram novamente, quebrando seu nariz. “Não importava o que eles fizessem, eu não me mexeria”. Os assassinos saíram à busca da mãe de Reaksa e suas irmãs, que estavam trabalhando numa fazenda próxima. Enquanto isso, ele lutava para sair debaixo dos corpos que tinham sido jogados por cima dele.
“Eu estava apenas começando a entender o que tinha acontecido. Eu não conseguia imaginar como eu poderia continuar com a minha vida. Eu estava deitado com os corpos dos mortos e esperando que os soldados viessem acabar comigo”, disse Reaksa ao Charisma News.
Quando enfim conseguiu sair da cova, Reaksa se escondeu e assistiu os soldados matarem sua mãe e suas irmãs, da mesma forma que fizeram com seu pai e irmãos. “Depois que os soldados deixaram o local, eu rastejei de volta para o túmulo e me ajoelhei com a cabeça curvada para o túmulo. Eu vi o rosto de minha mãe. Eu chorei e gritei até que eu perdi a consciência. Quando acordei, ele estava prestes a tornar-se escuro. Eu estava sozinho na selva escura. Naquela noite, eu decidi subir em uma árvore e segurar a árvore a noite inteira. Eu não podia fechar os olhos. Eu muito assustado”, relatou, frisando que passou os três dias e noites seguintes no local, escondido, comendo brotos de bambu e frutos silvestres e bebendo orvalho espremido de sua camisa encharcada de sangue.
Ao criar coragem para sair, decidiu que fugiria e que se vingaria do que haviam feito a sua família. Caso não pudesse cumprir esses objetivos, se tornaria monge budista, ou iria viver em outro país.
Nos anos seguintes, viveu migrando de região a região, até que o Vietnã derrubou o regime Khmer Rouge em 1979, quando ele já tinha 18 anos. Em 1984, tornou-se policial com o objetivo de retornar à sua aldeia e matar os assassinos de sua família. Quando encontrou o primeiro, o levou para a floresta, apontou a arma para ele, mas não conseguiu atirar. Reaksa então, chegou a conclusão de que precisava ir em frente, superar aquilo.
O novo regime não permitia que os jovens se tornassem monges, então a conclusão de Reaksa foi que era necessário sair do país, embora fosse ilegal. O jovem então, partiu para a Tailândia, onde existiam campos de refugiados, onde encontrou um primo, que havia se tornado pastor evangélico. “Ele ficava me falando sobre Jesus, e eu respondia que precisava de dinheiro, e não Jesus”.
Durante cinco anos, tentou um visto de refugiado para os Estados Unidos, sem sucesso. Então, passou a escrever para o consulado canadense, e decidiu que orar a esse respeito não faria mal. “Eu me senti sem esperança. Uma noite, eu me ajoelhei e orei: ‘Deus, se você me levar para o Canadá, eu vou começar uma nova vida e viver para Você”, prometeu.
Três meses depois, Reaksa conseguiu o visto para o Canadá, e um ano mais tarde, se converteu ao Evangelho, e passou a estudar teologia, apesar das mágoas que carregava consigo desde a chacina de sua família.
Com o tempo, a mensagem do Evangelho foi surtindo efeito no coração de Reaksa, e ele percebeu que precisava deixar Deus agir: “Eu não tinha conseguido deixar Deus ser o juiz justo. A vingança não é minha, é do Senhor. Deus não se lembrava dos meus pecados mais. Deus havia cancelado todos os meus pecados, mas eu não tinha conseguido soltar os pecados de assassinos da minha família”.
Em 1999, Reaksa sentiu Deus chamando-o de volta para o Camboja. Ele voltou para palestrar sobre psicologia em uma faculdade bíblica, mas decidiu ficar para plantar igrejas, incluindo a região em que sua família foi morta. E, embora ele já tivesse perdoado os assassinos durante os anos em que viveu no exterior, ele sabia que tinha chegado a hora para ele levar o processo um passo adiante, e então localizou o homem que matou seu pai e irmãos, o homem que o havia batido por trás, e o homem que havia matado sua mãe e irmãs mais velhas.
“Eu ofereci a cada um deles um lenço camelo como um símbolo do meu perdão. Eu ofereci minha camisa como símbolo do meu amor por eles. E eu dei-lhes a Bíblia como um símbolo de minha bênção a eles”, disse Reaksa, citando as palavras de Jesus em João 8:36: “Portanto, se o Filho vos libertar, você será livre de fato”
“Mentalizar ‘eu te perdôo’ enquanto viajava do Canadá para o Camboja foi fácil. Mas conhecer aqueles assassinos, olhar em seus olhos e dizer: ‘Eu te perdôo”, foi tremendamente difícil. Não há nenhuma maneira em minha própria humanidade que eu conseguisse fazer isso. Foi só o poder da graça de Deus em minha vida que me deu a força para fazer isso. Foi somente a graça de Deus que me libertou”, disse Reaksa Himm, testemunhando o milagre de sua vida.
Fonte: Gospel Prime
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