Peso do eleitorado evangélico nos EUA é cada vez menor



Em maio, Barack Obama tornou-se o primeiro presidente americano a declarar apoio ao casamento gay. Estava fazendo história, é certo, mas também cálculo político.  Em 2004, quando o democrata dizia acreditar que o casamento devia ser 'entre um homem e uma mulher', eram 60% os americanos contrários à união homossexual. Em 2012, quando tenta reeleger-se, são 43%, de acordo com pesquisa do Pew Research Center.
O republicano Mitt Romney, o rival de Obama na disputa pela Casa Branca, também está fazendo história. É o primeiro mórmon a disputar a presidência americana. Tendo escolhido o católico Paul Ryan para vice, Romney rompe uma tradição do Partido Republicano que vem desde 1860: a de ao menos um dos dois nomes da chapa ser protestante.
A aposta de democratas e republicanos é a mesma de dez entre dez analistas: esta eleição está pautada pela economia. Mas isso não significa que os dois grandes partidos americanos, muito bem munidos de pesquisas e estrategistas, tenham deixado de levar em conta questões morais morais e religiosas que há tempos influem nas escolhas dos eleitores. Eles apenas ajustam suas estratégias ao peso que essas questões têm no momento.  "Há nos Estados Unidos uma base religiosa que segue regras morais com muita firmeza. Mas devido à crise financeira, a religião foi colocada em segundo plano, deixando a salvação da economia como prioridade para o próximo governo", afirma Eduardo Oyakawa, professor de Filosofia na Graduação da ESPM-SP e especialista em sociologia da religião.

EVANGÉLICOS OU PROTESTANTES?

A rigor, o termo 'evangélico' pode ser usado para designar os fiéis de praticamente qualquer corrente protestante, desde as chamadas históricas (luteranos, calvinistas e anglicanos, por exemplo) às denominações surgidas no século XX. É assim em muitos países da Europa, berço da Reforma. Já no Brasil e nos Estados Unidos, 'evangélico' refere-se mais frequentemente apenas aos seguidores das igrejas pentecostais (como a Assembleia de Deus) ou neopentecostais (como a Universal do Reino de Deus). O Censo americano não levanta o número exato de fiéis de cada corrente. A última pesquisa do nacional do Pew Research Center, especializado em religião, apontou que 51,3% dos americanos são protestantes (18,1% históricos, 26,3% pentecostais ou neopentecostais e 6,9% fiéis de congregações fundadas por negros).
Crescei e multiplicai-vos –  A mobilização sistemática do eleitorado evangélico é uma cartada dos anos 1970. Esta década assistiu à multiplicação das correntes protestantes pentecostais e neopentecostais, comumemente tratadas por 'evangélicas' (leia ao lado). Desde então, evangélicos superam numericamente os fiéis das denominações protestantes históricas (luteranos, calvinistas etc.).
Em 1976, a revista Newsweek dedicou uma capa ao 'Ano dos Evangélicos'. Naquela eleição, esta fatia do eleitorado apoiou majoritariamente um democrata, o diácono batista Jimmy Carter, contra o republicano Gerald Ford, o vice de Richard Nixon, que renunciara dois anos antes, na esteira do escândalo Watergate. Na eleição seguinte, que levou Ronald Reagan à Casa Branca, o voto evangélico migrou para o Partido Republicano e a ele tem sido fiel desde então.
Como observam os cientistas Eric Kaufmann e Vegar Skirbeek em  Demografia política: como as mudanças populacionais estão remodelando questões de segurança internacional e política nacional (em tradução livre) , lançado em junho, há em boa parte do mundo uma forte correlação entre altas taxas de fecundidade e devoção religiosa, e entre devoção religiosa e identificação com siglas conservadoras. Isto vale especialmente para o apoio dos evangélicos ao Partido Republicano. O Grand Old Party, como também é chamado, tem a simpatia da maioria dos cristãos, mas é o eleitorado evangélico branco que lhe dá a mais expressiva vantagem (70%) (veja infográfico).
Paradoxo conservador – Nos anos 2000, o voto evangélico perde peso por duas razões. Uma delas é demográfica. Com altas taxas de fecundidade, os evangélicos tendem a ganhar representação em relação ao eleitorado secular, que nos Estados Unidos costuma favorecer o Partido Democrata. No entanto, o crescimento populacional de latinos, asiáticos e negros, que até 2050 serão a maioria da população americana, é ainda mais acelerado. E embora confissões evangélicas também sejam populares entre as minorias, sua orientação política é bem mais difusa.
Kaufmann e Skirbeek aponta na Califórnia uma expressão deste paradoxo: em 2008, o estado votou maciçamente (61%) em Obama e também na Proposta 8, que proibia o casamento gay. Ou seja, a agenda moral ainda é forte e mobilizou uma espécie de coalizão 'ecumênica' de evangélicos brancos e negros, católicos hispânicos, mórnons etc. Mas já ficou em segundo plano na disputa pela Casa Branca. Até no governo George W. Bush, fortemente identificado com a direita cristã, houve uma tentativa de limitar a influência dos evangélicos no primeiro escalão, como lembra Larry Eskridge, diretor adjunto do Instituto para o Estudo dos Evangélicos Americanos, do Wheaton College, em Illinois.
A perda de representatividade do tradicional eleitorado evangélico na política americana também é uma questão geracional, já captada em pesquisas de opinião. Eskridge aponta que os jovens evangélicos estão menos dispostos a empunhar as bandeiras de seus pais e mais propensos a apoiar causas identificadas como liberais, como preservação ambiental, assistência aos mais pobres, tolerância à imigração etc. Segundo um estudo recente do Grupo Barna, 43% dos evangélicos no final da adolescência e jovens adultos deixaram a igreja tradicional para seguirem crenças mais liberais.
"A visão dos evangélicos tradicionais é moldada por um desejo de restaurar normas do passado. Mas o perfil da comunidade evangélica tem mudado nos últimos anos e dado espaço a um segmento mais liberal", diz o americano Jonathan Dudley, autor do livro Broken Words: The Abuse of Science and Faith in American Politics (Palavras Quebradas: O Abuso da Ciência e da Fé na Política Americana, tradução livre), ele próprio um exemplo desta geração evangélica mais liberal.
Info Identificação religiosa e partidária nos EUA
Valores – O dilema de Romney é que ele ainda precisa mobilizar os republicanos que viram com desconfiança a indicação de um mórmon para presidente, mas sem assustar os eleitores moderados ou indecisos – a fatia que tradicionalmente decide a corrida pela Casa Branca. É sintomático que o republicano não tenha explorado em campanha a declaração de Obama sobre o casamento gay. Seu cálculo é que a repercussão poderia ajudar o democrata a engajar ainda mais eleitores liberais, o que, numa eleição em que o voto não é obrigatório, pode fazer a diferença.
O republicano joga suas fichas no debate econômico, com foco no desemprego (que continua acima dos 8%), déficit fiscal e corte de gastos. E faz acenos estudados à direita religiosa. Em 2011, provocado por uma organização conservadora, Romney se recusou a assinar um compromisso contra o aborto. Em 2012, já candidato, alinhou-se. 'Os candidatos evitam o risco de perder eleitores que não compartilham de sua posição', diz Dudley. 'Mas há também um risco em não se tomar uma posição firme sobre questões morais. Embora a prioridade hoje seja a economia, republicanos e democratas querem saber se seu candidato partilha de seus valores fundamentais.'
Fonte: Veja

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